quarta-feira, 1 de junho de 2011

Proteína C-Reativa - PCR


PROTEÍNA C-REATIVA

           Muita gente pensa que inflamação é aquele inchaço vermelho que surge na superfície do joelho machucado ou do dedo queimado. Entretanto, ela vai muito alem. As inflamações, como parte da reação imunológica, surgem no corpo inteiro para nos ajudar a combater infecções bacterianas e destruir tumores.
Quando é uma reação de curto prazo, a inflamação é essencial; sem ela, até um pequeno corte causado por uma folha de papel pode ser fatal. No entanto, cientistas se deram conta de que, quando se torna crônica, ela pode causar muitos problemas.

           “A inflamação é uma reação característica do organismo contra algum tipo de agressão”, resume Carlos Ballarati, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clinica. Ou como explica Francinne Machado Ribeiro, presidente da Sociedade de Reumatismo do Rio de Janeiro, “estados inflamatórios crônicos geralmente sinalizam a existência de doenças e, na maior parte dos casos, merecem uma investigação cuidadosa para chegar ao tratamento mais adequado”. 

           NÃO SINTO NADA; ENTÃO PARA QUE TANTA CONFUSÃO?

           Quando nos cortamos, o sistema imunológico dispara uma série de ações para limitar os danos. É a chamada inflamação aguda (de curto prazo). Primeiro, o fluxo sanguíneo aumenta no local da lesão, levando glóbulos brancos para neutralizar as bactérias presentes e impedir a infecção. Outras proteínas isolam a área, evitando que os microorganismos se espalhem. A pele inflamada fica quente porque, para apressar a cura, o sangue aumenta a taxa metabólica no tecido lesionado. A dor e o inchaço são uma mensagem do corpo, um pedido de descanso. É um sistema engenhoso.
           Porém, o tipo de inflamação que vem preocupando médicos e cientistas é mais complexo que isto. Não podemos perceber a inflamação sistêmica crônica (de longo prazo) do mesmo modo que sentimos um joelho ralado. Mas, percebida ou não, a inflamação que permanece é perigosa. “ A inflamação crônica resulta de um processo que não foi resolvido como deveria”, acrescenta Ballarati.


           Podemos não ver nem sentir essa inflamação crônica, porém ela deixa rastros como a Proteína C-reativa (PCR), que aparece em um simples exame de sangue. “Ela é um biomarcador que identifica processos inflamatórios agudos. Valores muito elevados indicam a existência de uma infecção do organismo”, afirma Evandro Tinoco, diretor-clinico do Hospital Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro.

           HÁ UMA LIGAÇÃO?

           Doença Cardíaca: Aqui, há um enigma: embora o colesterol seja um fator de risco bem conhecido das doenças cardíacas, cerca de 50% das vitimas de infarto têm nível de colesterol normal. Hoje, muitos cardiologistas acham que a inflamação explica boa parte dessa “lacuna do colesterol”.
           Um estudo acompanhou 28 mil mulheres durante oito anos e descobriu que a inflamação é uma pista essencial para prever o risco do primeiro infarto ou AVC. “No mínimo, a magnitude do risco por causa da inflamação foi maior do que a do colesterol”, diz o professor Paul Ridker, da escola de medicina de Harvard. “O caso não é substituir o colesterol como fator de risco. Os depósitos de colesterol, a pressão alta, o habito de fumar, tudo isso contribui para o desenvolvimento das placas subjacentes. Parece que a inflamação acentua a propensão dessas placas e a se romperem e causarem o infarto”.


           Câncer: Estudos afirmam que as infecções crônicas que causam inflamação estão associadas a quase 15% dos cânceres. O papilomavírus humano (HPV), por exemplo, provoca câncer do colo do útero, e quem sofre de hepatite B tem risco de ter câncer de fígado muito maior que a população em geral.
           A irritação e a inflamação crônicas que resultam fatores como a exposição a longo prazo a fumaça de cigarro, amianto ou sílica também elevar muito o risco de sofrer câncer. “A inflamação crônica é um processo lento que provoca agressão ás células normais de um órgão do corpo. Então o próprio organismo tenta reparar o tecido lesionado”. Cientistas acreditam que a constante restauração afeta a renovação celular e aumenta o risco de mutações do DNA, como o cancer.

           Doença de Alzheimer: Cientistas associaram inflamações no cérebro á demência e á doença de Alzheimer. “Na doença de Alzheimer, há um acumulo de depósitos de proteína no cérebro, difíceis de eliminar. Eles agem como um espinho no dedo, provocando uma reação inflamatória que só passa quando removido”. Infelizmente, esses depósitos não podem ser removidos como um espinho.
           A pesquisa mostra que anti-inflamatórios não esteróides tomados para outras doenças podem controlar a inflamação, e quem toma esses medicamentos talvez tenha menos chance de desenvolver a doença de Alzheimer.

           Diabetes: Vários estudos com mais de 50 mil participantes constataram que as mulheres com nível mais alto de inflamação crônica apresentavam risco quadruplicado de ter diabetes tipo 2. A inflamação está intimamente ligada á obesidade e á resistência a insulina.

         Transtornos inflamatórios: Pesquisas de Harvard vincularam ao coração doenças inflamatórias, como artrite reumatóide, lúpus e gota. Portadores de artrite reumatóide têm o dobro de risco de sofrerem um infarto ou parada cardíaca.

           COMO SE PROTEGER:

           “A arma mais eficaz na luta contra a inflamação crônica ainda é a prevenção. E as melhores medidas ainda são adotar uma alimentação saudável, evitar o tabagismo e praticar exercícios físicos regularmente”. Eis algumas recomendações:

           Omega-3: Obtenha ácidos graxos ômega-3 em quantidade suficiente. Eles impedem que leucócitos hostis cheguem a partes já inflamadas do corpo. Peixe, linhaça e nozes, todos fontes ricas, controlam as inflamações. A dieta rica em alimentos anti-inflamatorios pode prevenir e bloquear a inflamação pois fortalece o sistema imunológico e equilibra todas funções básicas do organismo.

           Frutas e verduras: Os antioxidantes encontrados em frutas e hortaliças combatem os radicais livres, causa conhecida de inflamações. Prefira espinafre e legumes alaranjados, vermelhos e amarelos ricos em carotenóides, que são excelentes anti-inflamatórios. A enzima bromelaína, encontrada no abacaxi, também mantém as inflamações sob controle.

           Evite as gorduras “ruins”: A gordura trans provoca inflamações e aumenta o risco de doenças cardíacas mais do que todos os outros ingredientes alimentícios.

           Entre em forma: A inflamação é agravada pela inatividade. Pratique exercícios moderados frequentemente. 

           Adote o mediterrâneo: Um dos melhores anti-inflamatórios naturais é o azeite de oliva. Em um estudo com mais de mil sobreviventes de infartos, foi verificado que os adeptos da “dieta mediterrânea” conseguiram baixar o nível de marcadores inflamatórios.

           Mais temperos: A cúrcuma é um anti-inflamatório poderoso. Misture-a com pimenta-do-reino e azeite de oliva para aumentar a absorção. O gengibre é também um anti-inflamatório natural.

           Pare de fumar: Largar esse hábito fatal reduz o nível de inflamação quase na mesma hora. Em alguns casos, os pacientes mostram os primeiros sinais de redução do nível de PCR apenas 72 horas depois do ultimo cigarro.

           Fique de olho nas pesquisas: Estudos sugerem que as estatinas, usadas no controle do colesterol, também podem reduzir o risco de infarto e AVC em pacientes que sofrem de inflamação crônica. Ainda não há conclusões mas a pesquisa avança depressa.

           Emagreça: A obesidade é considerada pró-inflamatória. Cardiologistas da Universidade de Johns Hopkins verificaram que pessoas acima do peso têm nível mais alto de proteínas inflamatórias no sangue e, portanto, correm um risco maior de sofrer insuficiência cardíaca.

           Use sempre fio dental: Existe sim um vinculo entre a saúde dos dentes e o coração. Sem cuidados adequados, as gengivas se inflamam. Isso leva as células imunes a produzir proteínas que vão para outras partes do corpo, inclusive, o coração. Existem forte evidencias de que a periodontite seja um indicador de risco para a saúde do coração.

            A Proteína C-reativa (PCR) é o marcador mais usado para detectar inflamações. As moléculas de PCR são produzidas no fígado e medidas para diagnosticar ou confirmar exames de PCR são utilizados há mais de 20 anos, principalmente em doenças inflamatórias como artrite reumatóide e infecções da corrente sanguínea. Ultimamente o exame tem despertado o interesse dos pesquisadores do câncer. Um amplo estudo dinamarquês de 2009 afirma que quem possui nivel elevado de PCR corre risco 30% maior de ter câncer mais tarde. Entre os pacientes com câncer, os que tinham nível elevado de PCR anteriormente ao diagnostico morreram antes dos que tinham nível mais baixo. O exame de PCR pode favorecer o diagnostico precoce de câncer e talvez se torne parte da rotina do clinico geral. Na Escandinávia, médicos de família  já analisam o sangue extraído por um furo no dedo para identificar infecções respiratórias. O PCR ajuda a distinguir as doenças que precisam de antibióticos das que não precisam.
           Há uma versão mais sensível do exame para quem corre risco de problemas cardíacos, mas nem todos os cardiologistas são fãs. A Associação Cardíaca Americana considera o exame importantíssimo para quem tem risco intermediário de enfarte, por exemplo, os que tem histórico familiar de doença cardíaca.